Carta aberta aos policiais federais da SR/DPF/BA

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Por José Leandro da Silva* Há muito que vejo os irmãos dentro da família Policial Federal hostilizando-se, chegando, hoje, a se tratarem como verdadeiros inimigos.
Estou na PF há mais de 10 anos e sempre fui um entusiasta, um otimista em relação à importância da PF no contexto nacional, sendo que aos que me perguntavam, sempre estimulei a fazer concurso para entrar na PF, algo que não faço mais, pois nossa casa vive em conflito e não há dúvida de que a estrutura institucional que conquistamos às duras penas ruirá com o peso de tanto ódio e ressentimento.
No DPF, diferentemente do que ocorre em outros órgãos, convivemos com colegas que vão para as ruas conosco, para as operações, situações reais onde há efetivo risco de morte, onde cada missão pode ser a última, e é inaceitável que estes colegas não possam desfrutar do mesmo padrão de vida que nós Delegados, que nossos filhos não possam estudar nas mesmas escolas, que não possamos morar em residências com o mesmo padrão ou desfrutar dos mesmos ambientes de lazer.
Um Policial Federal é um Policial Federal independentemente do cargo que ocupa e o valor de cada um não está no quanto recebe em seu contracheque, pois o que um policial realmente leva adiante em sua vida é o reconhecimento pessoal, é a marca da sua dignidade, é a estima dos seus colegas conquistado no dia a dia do trabalho, nos riscos que enfrentam juntos, nos problemas que surgem e nas soluções apontadas. O sucesso de nossas missões é o nosso legado no DPF e a nossa recompensa é ter nossa cabeça erguida diante de nossos inimigos, os criminosos, os quais volta e meia prendemos e que inevitavelmente retornam e retornarão às ruas.
O que mantém viva a Polícia Federal é o espírito de corpo, de grupo, esta é nossa verdadeira força, pois sozinhos somos alvos fáceis, mais um que pode ser assassinado a qualquer momento num ato de vingança de qualquer bandido, mas juntos somos temidos e respeitados, e esta é nossa fortaleza.
Os argumentos relativos à trava salarial, grave empecilho ao prosseguimento das negociações atuais, não subsistem, posto que baseados apenas no argumento de autoridade. A fundamentação do nosso direito de sermos bem remunerados está na própria função policial, na sua natureza, nos riscos que lhe são inerentes e na exclusividade do exercício do cargo, sendo que o papel que cada um desempenha dentro de nossa casa é irrelevante para determinar o que cada um deve ganhar como subsídio. A responsabilidade pelo exercício de Chefias deve ser recompensado com as remunerações de funções e gratificações correspondentes, sendo estes os únicos diferenciais, a meu ver, dignos de nota e qualquer outra diferenciação é mera discriminação e argumento vazio.
Não se pode diminuir a importância de nenhum cargo dentro do DPF para justificar diferenças salariais, pois isto expõe nossas fraquezas ao povo brasileiro, o qual nos respeita pelo conjunto de nosso trabalho e não pelas atribuições relativas a cada cargo.
Creio que os males decorrentes da autofagia que se opera dentro do DPF hoje são muito superiores às questões jurídicas que estão sendo trazidas para o debate, verdadeiras bobagens que serão solenemente ignoradas pelo Governo quando decidir acerca da reposição salarial.
Acredito que a reestruturação salarial é justa, devendo-se discutir apenas seus detalhes, se os padrões voltarão ou não, se a terceira classe continuará, quais as diferenças entre níveis e subníveis, etc. O nível superior já foi reconhecido aos EPA’s, cabendo às outras categorias apenas auxiliar estes colegas e alcançarem um padrão salarial tão digno quanto aquele que hoje desfrutam os Delegados e Peritos.
Com relação à Carreira Jurídica dos Delegados, tal proposição tem obtido êxito nos Estados da Federação e caberá aos Delegados decidirem se querem ser considerados homens de polícia ou juristas e se devem ou não ser remunerados por conta de tal condição. Deve-se aguardar para ver como evoluirá esta questão.
Em face de todas as questões que foram levantadas nos últimos dias em virtude do movimento paredista, senti a necessidade de me posicionar acerca dos fatos, pois não sou homem de meias palavras. Esta é a minha opinião.
*José Leandro da Silva é Delegado de Polícia Federal

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