OPERAÇÕES AEROTÁTICAS EM PILÃO ARCADO-BA, DEZESSEIS ANOS DA MORTE DO APF KLAUS.

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Klaus Henrique Teixeira de Andrade (in memoriam)

       15/04/1976     + 25/09/2003

“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia..”

Paulo de Tarso , Bíblia, 2 Timóteo 4:7-8.

No dia 25 de setembro de 2019 fará dezesseis anos da morte do APF Klaus, durante uma operação de apoio aéreo aproximado contra assaltantes de banco na região de Pilão Arcado-BA. Operação bastante paradigmática e falada, porém, pouca estudada. Durante o seu desenvolvimento, vitimou um policial e feriu três, se caracterizando como um dos eventos cruciais que merecia uma análise mais aprofundada por parte de nossa polícia, para que acontecimentos dessa natureza não voltem a se repetir com tamanha gravidade.

Para esclarecimento, não estive no evento, pois não era policial federal ainda. Entrei na PF em 2005 e fiz o VII Curso de Operações Aerotáticas em 2008. Esse pequeno relato se baseia em entrevistas feita a ex-membros da CAOP que estiveram no confronto e em notícias de domínio público.

O objeto desse pequeno artigo não é apontar erros ou acertos da operação e sim fazer uma justa homenagem ao APF Klaus, formado no IV Curso de Operações Aerotáticas, no ano de 2002.

Natural de Coronel Fabriciano-MG, desde jovem, o cidadão Klaus Henrique Teixeira de Andrade, nutria uma grande vontade de ingressar na Polícia Federal. No ano de 1999, esse sonho se torna realidade após passar no concurso para agente federal. Depois de quase cinco meses de treinamento, no curso de formação profissional, o policial foi designado para trabalhar em Porto Velho-RO. Contudo, sonhava mais alto. Desde que entrou na PF ele queria pertencer aos quadros da Coordenação de Aviação Operacional-CAOP, na função de Operador Aerotático. No ano de 2002, foi aberto o edital para o IV Curso de Operações Aerotáticas, no qual o Klaus se inscreveu. Vale lembrar que, mesmo a CAOP ter sido criada em 1996, com o nome de DAOP (Divisão de Aviação Operacional) o primeiro curso Aerotático somente foi realizado em 1999.

Naquele ano, o curso foi organizado e fundado pelo APF Machado, pioneiro do COT que utilizou sua experiência de conhecimentos em operações aéreas, adquiridos de cursos realizados no GSG9(grupo especial da policia federal alemã) e da CGOA, antiga Coordenadoria Geral de Operações Aéreas do estado do Rio de Janeiro. A formatação do curso em seu início se destacava pelas seguintes disciplinas:

  1. Tiro embarcado;
  2. Escape de aeronave submersa;

c.  Sobrevivência na selva e no mar;

d.  Primeiros socorros;

e.  Paraquedismo;

f. Rapel, Fast Rope, Mcguire, Hello Casting e, outras instruções necessárias à formação dos novos operadores.

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Fig 01 Instrução de rapel durante o V Curso de Operações Aerotáticas em 2004.
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Fig 02. Primeiro símbolo utilizado pelos operadores na CAOP.

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Fig.03, tripulação do Caçador 10 e policiais da SENAD(Secretaria Nacional Antidrogas, do Paraguai) durante a operação Aliança IX em dezembro de 2002(operação de erradicação de plantios ilícitos dentro do território paraguaio).Klaus está sentado em cima do helicóptero.

 

 

 

 

Após ser aprovado no curso de operações aéreas, Klaus foi removido para Brasília-DF, ao seu novo local de trabalho: o hangar da Polícia Federal, na função de Operador Aerotático. Seu sonho se realizara. Na CAOP, ele se especializou em primeiros socorros no corpo de Bombeiros do DF. A partir daí seria o difusor dessa disciplina e o responsável em prover os primeiros socorros nas diversas missões no qual participaria.

 

Em meados de setembro de 2003, a CAOP, foi designada para prover apoio aéreo em uma missão contra assaltantes de banco na região de Pilão Arcado-BA. Todo o trabalho de inteligência e acompanhamento do bando eram realizados por policiais federais da região, principalmente da delegacia de Juazeiro-BA. Nesse período, havia uma forte atuação de uma quadrilha chefiada por Cleiton Araquan, perigoso bandido que atormentava a área do Polígono da Maconha e adjacências com constantes assaltos e ações de vingança contra os “Bemvindos”,outro clã rival que praticava atos delituosos na mesma região dos Araquans. Estes bandidos se capitalizavam com o plantio e tráfico de maconha e também assaltos a banco. Suas ações eram bastante conhecidas e popularizadas, dando uma áurea de invencibilidade a esses facínoras, naquela região tão sofrida e abandonada pelo poder público.

 

O dia 25 de setembro de 2003 marca potencialmente a PF e, particularmente a CAOP, por ser o dia no qual suas forças se envolveram no combate mais ferrenho que tiveram em anos. Depois de cumprir uma missão na região de Manaus-AM, Klaus se voluntariou para ir como um dos operadores no Caçador 06. Após a chegada do helicóptero na região, houve os contatos iniciais com policiais da área para planejarem a atuação da aeronave no contexto da operação. Geralmente, em uma ação dessa natureza o helicóptero fica no perímetro externo como o responsável por neutralizar e interromper a fuga do bando ou impedir a chegada de reforços. Somente com tropas em apoio no solo e comunicação bilateral eficiente, o helicóptero poderá se envolver no embate direto. Isso depois de uma análise de gerenciamento de risco que avaliará o local de espera e acionamento pelo GAA, Guia Aéreo Avançado (Operador especializado em comunicações e navegação) que estará junto à tropa apoiada para orientar a aeronave no cenário. É interessante ressaltar, que a doutrina do GAA só foi desenvolvida após os fatídicos acontecimentos de Pilão Arcado.

 

Quando os bandidos chegaram à cidade a aeronave foi acionada. Nesse momento já estava havendo o confronto perto do Banco do Brasil com três policiais baleados. Após sobrevoar a região a tripulação do caçador viu indivíduos de preto, perto do banco. Ao mesmo tempo em que a tripulação tentava manter comunicação com as equipes de solo, para agir no cenário e tomar uma atitude ofensiva, o bando apontou seus fuzis para fazerem uma sequencia de disparos contra o helicóptero. Um desses disparos entrou pelo assento de um dos pilotos atingindo mortalmente o Klaus na cabeça, levando ao seu falecimento instantaneamente. Diante da situação, a tripulação com bastante calma realizou medidas evasivas de voo e procurou a remoção imediata para o posto médico da cidade, na esperança que ainda houvesse sinais de vida do operador.

 

Ao final da perseguição implacável, as forças policiais lograram êxito em encontrar e neutralizar o bando criminoso que matou o Klaus. Destacaram-se na ação policiais federais de Pernambuco, Sergipe, Bahia e o nosso COT, como também as equipes especiais da CIOSAC-PM/PE, CEPAC-PMBA, hoje CIPE-CAATINGA. A CAOP, mesmo enlutada pela perda de seu valoroso policial, se manteve firme com dois helicópteros em apoio às equipes de solo que faziam a perseguição. Todos merecem o devido reconhecimento e louvor.

 

Ao nosso Klaus, o devido reconhecimento do sacrifício de sua vida em prol de uma sociedade mais segura. Onde você estiver, pode ter certeza que sua morte não foi em vão.

 

“Os covardes morrem muitas vezes antes de sua morte; os valentes morrem uma única vez.” (De Júlio César),William Shakespeare.

 

MEMENTO AUDERE SEMPER!

 

GRIFO!

 

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